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O Buraco do meu Umbigo; quer ponto mais central e crítico? Não, nós não somos três surtados estudantes de jornalismo, que dizer, somos três estudantes de jornalismo, mas nada de surtados, pelo menos não em condições normais de temperatura e pressão, ou seja, em Juazeiro e Petrolina não há normalidade de temperatura e pressão, não no sentido que as estou empregando. Logo, não nos resta muito tempo para a SANIDADE; e quem a quer afinal de contas? Deixemos isso para mais tarde, quando a falta de tempo nos deixar ainda mais loucos por não haver tempo para o pensamento. Pois bem, VOLTANDO AO QUE INTERESSA e desvendando o nosso querido blog, estamos apenas a fazer uma referência ao buraco negro que é a nossa mente e a um centro de discussão crítica. Mas não se prenda à nossa ínfima linha de raciocínio, aqui a criatividade está em questão. Nunca se sabe, ao certo, o que a mente humana é capaz de produzir, por isso não se reprima. Aqui O BURACO É NOSSO (o do umbigo, obviamente), mas se quiser apelidá-lo de “imbigo”, e torná-lo seu também, vá em frente, se esparrame no sofá e sinta-se em casa.

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quinta-feira, 12 de junho de 2008

ENTREVISTA

Mila Devic – Atriz/ Interprete do Bando de teatro "SEM NOME”.
Entrevista concedida a estudante de jornalismo Ilana Copque.

Pra você o que é o teatro e o que ele representa em sua vida?
Devic - O teatro é nada mais que a vida sentida. Através dele sonhamos e realizamos. Todos nós somos personagens no dia-a-dia. Tenho pouca experiência como atriz, mas esse grupo representa um grande aprendizado. Estar no teatro é sagrado. Pisar no palco, não é glorioso por causa de aplausos, mas pela sensação de respirar antes da cena; concentrar-se e conseguir ver em si mesmo a personagem que você, com muito trabalho, desenvolveu... é lindo, por isso é uma recompensa.

É um esforço muito grande estudar textos, elaborar cenas, desenho de palco, marcações, iluminação e sonoplastia. A direção dos “Sem Nome” é fantástica, e o intérprete por necessidade e por osmose aprende um pouco de tudo. Este é um dos objetivos do Fábio Viana com seus alunos de teatro: o sonhar; ou melhor, realizar esses sonhos, essas fantasias. Não há pudor, nem hipocrisia. No teatro eu (enquanto intérprete ) sou linda mesmo sendo ridícula e sem medo de ser.


Vocês se consideram um grupo alternativo?
Devic - Alternativo em que sentido?


Alternativo ao comercial, ao que está no circuito, aquele que não segue exatamente uma regra, reflexo de uma diferença...
Devic - COM CERTEZA! Esse grupo a priori foge do óbvio, do maçante. Usamos e abusamos da criatividade com técnicas inovadoras e completamente "loucas", no sentido de excêntricas mesmo. Nós fazemos um teatro conscientizador sem ser ditado, sem ser um teatro chato e igual, que vem inclusive desestimulando a platéia. Nosso teatro, com sua maneira irreverente, pretende encantar e conscientizar o público, para que naqueles minutos de apresentação a pessoa se envolva e cante as musicas conosco além de sentir a dor ou alegria de cada personagem. É um teatro lúdico e dionisíaco.


O que você acha do teatro comercial e o próprio público que freqüenta esses espetáculos?
Devic - Olha, eu acho que é relativo. O teatro se vende tanto quanto qualquer outra profissão (precisam de público e ibope). A questão não está nos atores que se vendem a esse teatro comercial, a questão está na platéia que é alienada e pede por "programas alienantes”, entende?


O teatro comercial é o que realmente atrai o publico, é a futilidade que está no ar. O nosso trabalho é exatamente para mudar isso. Queremos revolucionar um pouco a mente das pessoas, relembrando valores que estão perdidos. São 40 anos de tropicália, e a década de 50 de 70? Aqui eu entro com uma fala da peça: "onde está a força sagrada dos adolescentes-heróis da vida e da morte?”.


Será que estes adolescentes-heróis não estão na verdade a procura de novas formas de manifestação? Afinal é difícil mobilizar milhares de pessoas quando os interesses se divergiram tanto.

Devic - Mas tudo é válido, desde que haja realmente uma mobilização. Até por que, hoje em dia paralisação, gritos e caras pintadas não fazem tanto efeito quanto antes. Somos uma das gerações mais privilegiadas em termos de oportunidade. Temos como fazer algo diferente e eficiente e por que não fazemos?


Tudo hoje é o "créééu". Ninguém conhece Caetano com seus cabelos revoltos, nem ouve as músicas do nosso querido Jorge Mautner. Não existe mais romantismo, apenas consumismo; até para se amar tem que ter dinheiro. Os jovens tinham seus estilos por identificação, criatividade ou ate protesto, e hoje, os estilos são fabricados em massa, todos querem ser iguais sem saber o que é esse igual. Obedecer a padrões vendidos não são os nossos valores.


Qual é a identidade do brasileiro? Todas e nenhuma. Por que não existe esse orgulho em ser brasileiro? Estamos em extinção, e a nossa cultura só é bonita para satisfazer um desejo de excentricidade e de primitivismo do turista americano ou europeu.


Ainda que os desejos sejam diferentes, o privilegio de poder dizê-los ou sugeri-los morreu. Deveríamos pelo menos lutar por esse direito de bradar os pensamentos de verdade de uma geração que não tem que ser a coca cola. Podemos sim fazer algo diferente, é isso que prega o "kaos" com K de Jorge Mautner.


E o que seria esse “Kaos” com K??
Devic - O kaos com K é exatamente o oposto do caos com C. O caos com C é o cotidiano, essa loucura de rotina, trabalho, stress, engarrafamento e violência. O kaos com K é a poesia no dia a dia, é a beleza das coisas que estão esquecidas, a arte, um conflito criador.


Gosto de viver uma vida que não precisa ter muita coisa pra ser diferente, basta mudar o seu próprio olhar sobre ela e se permitir viver nessa loucura, mas com momentos de poesia; ter a sensibilidade de enxergar essa poesia na beleza de um amanhecer, ou nas cenas cômicas da janela de um ônibus.


Ser do kaos é lutar contra dogmas, regras, conceitos e tabus impostos. Ergamos a bandeira do kaos!


De que maneira vocês como atores se preparam para levar essa conscientização ao público? Como é esse contato com a platéia?
Devic - Diretíssimo (risos). Mexemos com arquétipos de pessoas comuns. Nosso teatro é mesmo para que essa platéia nos alcance e entenda. Logo, como atores temos aulas de dança (várias técnicas de dança), canto e expressão corporal. Técnicas de teatro mesmo: estudo de textos. Temos inclusive a participações de pessoas que ensinam coisas diferenciadas, e exercícios desenvolvidos por grandes teatrólogos. O próprio diretor trabalha diretamente conosco, utilizando técnicas de vários teatros: teatro de rua, europeu, português e também o teatro da crueldade.


Crueldade?

Devic - Sim, esse é um tipo de teatro que não tem nada a ver com crueldade no sentido literal, ou sadismo. Ele na verdade é um teatro de inovação, como assim explica Antonin Artaud. Ele prega que o teatro deveria buscar no fogo das massas uma agitação essencial...

Mas ainda em continuação a pergunta anterior, interagimos com a platéia, como eu já disse, literalmente de forma direta. Os atores descem do palco e cantam com o publico, pegam, brincam, questionam o mesmo. É sempre coisas polêmicas, é muito legal. Mas tem platéia que reage bem e outras que não.

Pra finalizar, qual sua visão de como será o teatro mais adiante? Você acredita que a tendência é continuarmos indo mais pro lado do teatro comercial, onde não se tem exatamente uma reflexão, onde o objetivo gira mais em torno do lucro, ou acha que nós, como público, estamos começando a procurar uma alternativa a esse germe da indústria cultural?

Devic - Acho que o teatro lúdico é que nos salvará de muita coisa. A “máquina” já teve sua vez, e agora está tão presente que sufoca. Precisamos de uma saída, e a arte é a saída. As pessoas agora começam a querer de volta a poesia à fantasia.


Eu acredito mesmo no Kaos com K. Acredito mesmo que o ser humano vai sentir a chama da sua essência revivendo, a necessidade de se sentir vivo, único. A arte nos proporciona isso.