quinta-feira, 12 de junho de 2008ENTREVISTAMila Devic – Atriz/ Interprete do Bando de teatro "SEM NOME”. É um esforço muito grande estudar textos, elaborar cenas, desenho de palco, marcações, iluminação e sonoplastia. A direção dos “Sem Nome” é fantástica, e o intérprete por necessidade e por osmose aprende um pouco de tudo. Este é um dos objetivos do Fábio Viana com seus alunos de teatro: o sonhar; ou melhor, realizar esses sonhos, essas fantasias. Não há pudor, nem hipocrisia. No teatro eu (enquanto intérprete ) sou linda mesmo sendo ridícula e sem medo de ser. Vocês se consideram um grupo alternativo? Alternativo ao comercial, ao que está no circuito, aquele que não segue exatamente uma regra, reflexo de uma diferença... O que você acha do teatro comercial e o próprio público que freqüenta esses espetáculos? Será que estes adolescentes-heróis não estão na verdade a procura de novas formas de manifestação? Afinal é difícil mobilizar milhares de pessoas quando os interesses se divergiram tanto. Devic - Mas tudo é válido, desde que haja realmente uma mobilização. Até por que, hoje em dia paralisação, gritos e caras pintadas não fazem tanto efeito quanto antes. Somos uma das gerações mais privilegiadas em termos de oportunidade. Temos como fazer algo diferente e eficiente e por que não fazemos? Tudo hoje é o "créééu". Ninguém conhece Caetano com seus cabelos revoltos, nem ouve as músicas do nosso querido Jorge Mautner. Não existe mais romantismo, apenas consumismo; até para se amar tem que ter dinheiro. Os jovens tinham seus estilos por identificação, criatividade ou ate protesto, e hoje, os estilos são fabricados em massa, todos querem ser iguais sem saber o que é esse igual. Obedecer a padrões vendidos não são os nossos valores. Qual é a identidade do brasileiro? Todas e nenhuma. Por que não existe esse orgulho em ser brasileiro? Estamos em extinção, e a nossa cultura só é bonita para satisfazer um desejo de excentricidade e de primitivismo do turista americano ou europeu. Ainda que os desejos sejam diferentes, o privilegio de poder dizê-los ou sugeri-los morreu. Deveríamos pelo menos lutar por esse direito de bradar os pensamentos de verdade de uma geração que não tem que ser a coca cola. E o que seria esse “Kaos” com K?? Gosto de viver uma vida que não precisa ter muita coisa pra ser diferente, basta mudar o seu próprio olhar sobre ela e se permitir viver nessa loucura, mas com momentos de poesia; ter a sensibilidade de enxergar essa poesia na beleza de um amanhecer, ou nas cenas cômicas da janela de um ônibus. Ser do kaos é lutar contra dogmas, regras, conceitos e tabus impostos. Ergamos a bandeira do kaos! De que maneira vocês como atores se preparam para levar essa conscientização ao público? Como é esse contato com a platéia? Crueldade? Devic - Sim, esse é um tipo de teatro que não tem nada a ver com crueldade no sentido literal, ou sadismo. Ele na verdade é um teatro de inovação, como assim explica Antonin Artaud. Ele prega que o teatro deveria buscar no fogo das massas uma agitação essencial... Mas ainda em continuação a pergunta anterior, interagimos com a platéia, como eu já disse, literalmente de forma direta. Os atores descem do palco e cantam com o publico, pegam, brincam, questionam o mesmo. É sempre coisas polêmicas, é muito legal. Mas tem platéia que reage bem e outras que não. Pra finalizar, qual sua visão de como será o teatro mais adiante? Você acredita que a tendência é continuarmos indo mais pro lado do teatro comercial, onde não se tem exatamente uma reflexão, onde o objetivo gira mais em torno do lucro, ou acha que nós, como público, estamos começando a procurar uma alternativa a esse germe da indústria cultural? Devic - Acho que o teatro lúdico é que nos salvará de muita coisa. A “máquina” já teve sua vez, e agora está tão presente que sufoca. Eu acredito mesmo no Kaos com K. Acredito mesmo que o ser humano vai sentir a chama da sua essência revivendo, a necessidade de se sentir vivo, único. A arte nos proporciona isso. |